Algoritmo do YouTube Potencializa Teorias de Conspiração sobre Crise Climática, Alerta Pesquisa da UFRJ

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A influência das redes sociais na disseminação de informações e desinformação atingiu um novo ápice com a pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelando que o YouTube desempenhou um papel significativo na radicalização de brasileiros em relação à crise climática. O documentário “Cortina de Fumaça”, produzido pela Brasil Paralelo, foi o foco deste estudo que demonstra como a plataforma de vídeo contribuiu para a disseminação de teorias de conspiração negacionistas relacionadas à emergência climática.

Lançado em junho de 2021, o documentário conquistou mais de 1,8 milhão de visualizações em apenas três meses, graças a uma estratégia agressiva de anúncios que fez da Brasil Paralelo uma das maiores anunciantes no Google e Facebook. O sucesso do filme trouxe consigo um rastro de desinformação.

Os pesquisadores da UFRJ analisaram mais de 13 mil comentários e 982 vídeos recomendados no YouTube relacionados ao documentário. Os resultados revelam que a plataforma não apenas difundiu teorias de conspiração, mas também direcionou os espectadores para outros conteúdos conspiratórios, exacerbando a polarização política no país.

O documentário “Cortina de Fumaça” adota uma abordagem que parece jornalística e científica, mas dissemina informações enganosas. Negando o aumento do desmatamento no Brasil, distorcendo as reivindicações indígenas e vilanizando ativistas e ONGs, o filme alega que há uma conspiração global para prejudicar o agronegócio brasileiro.

As informações enganosas não se limitam à questão ambiental. O estudo identifica fake news no documentário, como a acusação de que ONGs denunciam ameaças à Amazônia apenas para obter dinheiro de estrangeiros. Além disso, o filme alega que nações estrangeiras que financiam a preservação ambiental no Brasil têm a intenção de roubar os recursos da Amazônia. A denúncia do suposto “infanticídio indígena” também é utilizada no filme para disseminar pânico moral, apoiando-se na retórica de evangélicos missionários, como a senadora Damares Alves.

Curiosamente, o documentário viola as regras do próprio YouTube, que, desde 2015, se compromete a combater as mudanças climáticas evitando conteúdos desinformativos sobre o tema. Os pesquisadores ressaltam que, no campo ambiental, a crença em teorias de conspiração ameaça os esforços globais para enfrentar a crise climática, afetando a participação política e a aceitação da ciência.

A análise dos vídeos recomendados pelo YouTube revelou que muitos deles se concentram em temas políticos extremistas, incluindo ataques contra a esquerda, acusações de “ideologia comunista” e elogios ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, alguns vídeos promovem revisionismo histórico, romantizando as cruzadas europeias, a colonização e minimizando os horrores da escravidão e do golpe militar de 1964.

O estudo também identificou uma rede de canais indicados pelo algoritmo do YouTube que ampliam conteúdos extremistas. Entre esses canais, destaca-se o Grupo Jovem Pan e o vlog Mundo Polarizado, que propagam teorias de conspiração de extrema direita.

Os pesquisadores concluem que o sistema de recomendação do YouTube facilita conteúdos extremistas, levando os usuários a mergulharem cada vez mais fundo em conteúdos radicais e conspiratórios. Eles chamam a atenção para a necessidade de uma auditoria democrática dos algoritmos das plataformas e estratégias de comunicação que reforcem a discussão ambiental no campo científico.

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