Evento reúne manifestantes em um ato que mescla memória, reivindicações e cultura
A Avenida Paulista, coração da metrópole paulistana, foi palco da 20ª edição da Marcha da Consciência Negra, evento que transcende a mera manifestação, amalgamando memória, reivindicações e celebração cultural. Ao som pulsante do Bloco Afro Ilú Obá de Min, o cortejo iniciou sua trajetória no Vão Livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), marcando o Dia da Consciência Negra.
Diferentemente de anos anteriores, a presença expressiva de jovens contrastou com as imagens e homenagens a figuras ancestrais reverenciadas, como Dandara, Zumbi dos Palmares e a ativista quilombola Bernadete Pacífico, recentemente executada na Bahia. Este elo entre gerações realçou o comprometimento contínuo com a luta antirracista.
No cerne das reivindicações, destaca-se a condenação da violência de Estado, com ênfase na recente Operação Escudo na Baixada Santista. Essa intervenção policial, ocorrida sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi recordada como a mais letal desde o massacre do Carandiru em 1992, com a morte de 33 pessoas em 46 dias, acusadas de tortura e execuções.
Monique Brasil, integrante do Movimento Brasil Popular, expressou solidariedade: “Vim somar minha voz às dos meus irmãos e irmãs, não só em um momento simbólico de luta pelo povo negro, que vem sendo perseguido pelo Estado, mas também como demonstração de que, geração após geração, nós estamos de pé”.
Em meio aos manifestantes, Rafaela Rodrigues, aos 17 anos, representou a juventude ao destacar a importância do evento em proporcionar identificação cultural. “Estar aqui, ver gente igual a você, com o cabelo igual a você, cultura igual à sua, é bom demais”, afirmou a estudante do cursinho popular da Uneafro.
A professora Bernadete da Silva, residente em Cidade Tiradentes, sublinhou a relevância da marcha na luta contra o racismo, destacando os desafios de promover a Lei 10.639/03, que exige o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas. “Não é fácil trabalhar a questão racial dentro da sala de aula porque muitas vezes você não tem apoio, você trava a luta só. É nesses momentos que a gente vem buscar força”.
O feriado estadual no Dia da Consciência Negra em São Paulo, conquista recente impulsionada pelo movimento negro, foi destacado por Flávio Jorge, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), como uma vitória significativa. O ato culminou nas escadarias do Theatro Municipal, marcando não apenas o encerramento do evento, mas também um local simbólico para o Movimento Negro Unificado (MNU), fundado em 1978.