A história trágica dos Xokleng, marcada pelo holocausto iniciado no século XIX, ressoa como um apelo urgente nos corredores do poder brasileiro. O Estado, cúmplice em tempos passados, agora enfrenta a decisão crucial de respeitar ou desrespeitar os direitos dos sobreviventes desse capítulo sombrio.
No alvorecer do século passado, após serem caçados e confinados, os Xokleng viram suas terras originais de 370 km² reduzidas para um exíguo território de 140 km² em Santa Catarina. Onde antes eram nômades, foram confinados em um campo de concentração disfarçado pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
Hoje, a batalha continua. Os grandes latifundiários, descendentes dos perpetradores do holocausto, buscam aprovar o controverso “marco temporal”. Sob o pretexto de beneficiar pequenos agricultores, na realidade, essa medida favorece aqueles cujos sobrenomes estão intrinsecamente ligados à opressão histórica.
O “marco temporal”, se aceito, comprometeria a luta dos Xokleng pela recuperação de 230 km² de terras usurpadas. Uma batalha que transcende o justo; é uma questão de sobrevivência. Nos anos 1970, uma barragem construída sem consulta, com bênçãos ditatoriais, expulsou-os de suas terras cultiváveis, relegando-os a encostas de morros e beiras de estradas.
Ironicamente, a barragem, destinada a conter enchentes, tornou-se inútil devido ao desmatamento promovido pelo agronegócio. Agora, os mesmos interesses buscam erigir outra barreira, uma barragem legislativa, tentando separar os Poderes e desrespeitando a Constituição.