Nos últimos 38 anos, o Brasil testemunhou uma transformação impressionante em seu território, com a agropecuária ocupando agora um terço do país. Dados revelados pelo MapBiomas revelam que, entre 1985 e 2022, a área destinada ao agronegócio cresceu 50%, equivalente ao tamanho do Mato Grosso, o terceiro maior estado brasileiro.
Essa expansão é notadamente impulsionada pelo desmatamento para pastagem, que responde por quase dois terços do avanço da fronteira agrícola. Embora tenha havido uma breve desaceleração na substituição da vegetação nativa por pastagens entre 2008 e 2012, os números voltaram a subir desde 2013. Os impactos socioambientais dessa expansão são vastos e preocupantes.
Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas, destaca que “a expansão da agropecuária ainda envolve desmatamento, contribuindo para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, perda de ecossistemas naturais, perda de biodiversidade e impactos na regulação do clima e ciclo hidrológico”. Além disso, frequentemente resulta em conflitos fundiários e sociais, afetando comunidades tradicionais e indígenas. O manejo inadequado do solo também pode levar à degradação e perda de produtividade a longo prazo.
A Amazônia, especialmente o Pará, é o epicentro desse processo. Nas últimas quatro décadas, a área da Amazônia ocupada por pastagens para agropecuária saltou de 13,7 milhões para 57,7 milhões de hectares. Esse aumento está relacionado ao crescente desmatamento na região, principalmente para a expansão das pastagens. Vale ressaltar que muitas dessas áreas não são produtivas, sendo convertidas para venda de terras que, por sua vez, podem ser destinadas à agricultura.
A expansão agrícola não se limita ao desmatamento para pastagem. O cultivo agrícola também desempenha um papel significativo nesse cenário de transformação territorial. Cerca de 96% das terras destinadas ao cultivo agrícola, adquiridas desde 1985, são destinadas à produção de grãos e cana-de-açúcar. Atualmente, essas culturas ocupam 7% do território brasileiro, e a soja transgênica se destaca, com 35 milhões de hectares, representando um aumento impressionante em quatro vezes em relação ao passado.
O Cerrado é um dos biomas que mais testemunhou o crescimento da soja, com um aumento de mais de 15 vezes no período monitorado. Embora o crescimento na Amazônia tenha sido notório, o Cerrado ainda é responsável por 48% da área plantada com soja no Brasil.
Essa expansão da agropecuária, embora vital para a economia, traz consigo desafios significativos em termos de conservação ambiental e sociais. Equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação dos ecossistemas naturais e a proteção dos direitos das comunidades locais é essencial para o futuro do Brasil.