Intoxicação Alimentar: Conselhos Preciosos de uma Microbiologista

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Uma Ameaça Silenciosa

Todos os anos, cerca de 2,4 milhões de pessoas no Reino Unido enfrentam um inimigo invisível: a intoxicação alimentar, frequentemente causada por contaminação viral ou bacteriana. A maioria se recupera sem tratamento, mas infelizmente, não todos têm essa sorte.

Como jornalista especializado em saúde e ciência, estou bem ciente dos riscos associados a infecções transmitidas pelos alimentos. Hoje, compartilho algumas das precauções que tomo para evitar essa ameaça oculta.

Comer ao Ar Livre: Um Desafio

Raramente faço refeições ao ar livre, seja em piqueniques ou churrascos, porque o risco de intoxicação alimentar aumenta consideravelmente quando a comida é exposta a elementos naturais.

Manter as mãos limpas ao manusear alimentos é fundamental para prevenir doenças, mas quantas vezes você encontra água quente e sabão disponíveis em um parque ou na praia? A resposta provavelmente é “quase nunca”. Nesses casos, álcool em gel pode ser uma alternativa aceitável, embora não elimine todos os germes.

Além disso, alimentos ao ar livre costumam atrair uma série de criaturas, como moscas, vespas e formigas, que podem transmitir germes perigosos, incluindo E. coli, Salmonella e Listeria. Manter alimentos perecíveis resfriados e protegidos é essencial, uma vez que o número de germes pode dobrar se a temperatura ultrapassar os 30°C por algumas horas. No caso de churrascos, é fundamental garantir que a carne esteja completamente cozida, e um termômetro de carne é um aliado valioso para evitar intoxicações alimentares. Nunca consuma carne que não atingiu uma temperatura interna de 70°C.

Desafios de Buffets

Em ambientes de buffet, esteja ciente das condições que favorecem o crescimento bacteriano. Os alimentos expostos podem ser contaminados por insetos, poeira e, mais preocupante ainda, por outras pessoas. Infelizmente, em buffets, a intoxicação alimentar pode ser um risco quase inevitável.

A contaminação ocorre quando os visitantes do buffet manuseiam os alimentos. Além disso, germes podem ser disseminados pela tosse ou espirro de pessoas próximas aos alimentos. Mesmo em ambientes fechados, insetos como moscas e vespas podem pousar em alimentos não protegidos. Além disso, o próprio ar é rico em bactérias, fungos e vírus.

Sempre que estou em um buffet, verifico o horário, pois alimentos perecíveis podem se tornar impróprios para consumo após duas horas sem refrigeração adequada. O desafio é que os buffets muitas vezes são montados antes da chegada dos clientes, tornando difícil determinar por quanto tempo os pratos de carne, frutos do mar, saladas, sobremesas e outros alimentos estão expostos.

No caso de buffets quentes, como os do café da manhã em hotéis, evito alimentos que não estejam na temperatura adequada, ou seja, pelo menos 60°C. Alimentos quentes devem ser servidos mantendo essa temperatura.

Ostras: Um Risco Oculto

Existem certos alimentos que eu simplesmente evito, e os frutos do mar crus, como ostras, estão no topo da minha lista. O motivo é que as ostras, como filtradoras, podem concentrar germes como Vibrio e norovírus em seus tecidos.

Uma ostra contaminada por Vibrio não apresenta aparência, cheiro ou sabor distintos, mas pode causar sérias doenças. Nos EUA, estima-se que cerca de 80 mil pessoas contraiam infecções por Vibrio ao consumir ostras cruas, resultando em aproximadamente 100 mortes a cada ano.

Outros frutos do mar crus, como amêijoas, mexilhões e búzios, também representam um risco de intoxicação alimentar. Portanto, só consumo frutos do mar quando devidamente cozidos, uma vez que o calor é eficaz na eliminação de germes prejudiciais.

Saladas Embaladas: Um Cuidado Extra

Saladas embaladas, eu evito completamente. Isso se deve ao meu envolvimento na pesquisa sobre segurança alimentar em folhas de salada. Descobrimos que folhas de alface embaladas podem conter germes perigosos, como E. coli, Salmonella e Listeria.

Nosso estudo revelou que esses patógenos se multiplicam mais de mil vezes quando expostos ao suco das folhas, mesmo que a salada seja mantida refrigerada. O preocupante é que esses germes podem usar o suco das folhas para se tornarem mais virulentos, aumentando sua capacidade de causar infecções.

Para os amantes de salada, a boa notícia é que a maioria das saladas embaladas é segura, desde que sejam armazenadas adequadamente, lavadas antes do consumo (mesmo as prontas para consumo) e consumidas o mais rapidamente possível após a compra.

Práticas Culinárias Conscientes

Quando se trata de práticas culinárias em casa, tenho uma lista de verificação do que fazer e não fazer.

Sempre verifico a data de validade dos alimentos perecíveis e, se a embalagem estiver inchada ou o alimento parecer ou cheirar diferente, mesmo antes do prazo de validade, descarto-o, pois pode estar contaminado.

Nunca utilizo as mesmas tábuas de corte para alimentos crus e cozidos, e faço questão de lavar as mãos antes e depois de manusear alimentos.

Uma prática que eu evito é reaquecer o arroz cozido. O arroz cru pode conter esporos de Bacillus cereus, que sobrevivem ao cozimento. Se o arroz esfriar e permanecer à temperatura ambiente, esses esporos podem se transformar em bactérias, que se multiplicam rapidamente, produzindo toxinas que causam vômitos e diarreia algumas horas após a ingestão.

Jantar Fora: Consciência em Ação

Minha experiência em microbiologia me torna muito cautelosa ao jantar fora. Costumo ser a primeira na fila em buffets, evito alimentos que não atendam aos padrões de segurança e fico atenta ao tempo que os alimentos perecíveis ficam expostos. Mesmo que o restaurante ofereça levar sobras para casa, não aceito, pois geralmente excedem o limite seguro de duas horas.

A vantagem de ser uma microbiologista consciente da segurança alimentar é que tenho conhecimento para evitar intoxicações alimentares. Em troca, as pessoas confiam que minha cozinha é um lugar seguro.

Primrose Freestone é professora sênior em microbiologia clínica na Universidade de Leicester.

Este artigo foi originalmente publicado no site The Conversation e é reproduzido aqui sob a licença Creative Commons.

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