A revolução digital alterou a forma como os pacientes acessam informações de saúde, um avanço que, embora promissor, traz consigo desafios significativos para os sistemas de saúde e a relação entre médicos e pacientes. A capacidade de obter informações médicas em um clique pode empoderar os indivíduos, permitindo uma participação mais ativa na gestão de sua saúde. No entanto, essa facilidade de acesso requer habilidades complexas além da simples navegação na internet.
Tornar-se um “paciente digitalmente engajado” é um conceito que vai além da mera busca por informações online. Implica, sobretudo, a capacidade de discernir a qualidade e procedência das informações de saúde encontradas na vastidão do ambiente digital.
A jornada para se tornar um paciente engajado nesse contexto é marcada por nuances complexas. O acesso à informação pode ser uma tarefa hercúlea, com o risco latente de esbarrar em notícias enganosas. O desafio vai muito além da alfabetização digital; engloba também o letramento em saúde.
Questões sociais e culturais desempenham um papel crucial nesse processo. O nível de familiaridade com o ambiente digital (letramento digital) e a compreensão de conceitos de saúde (letramento em saúde) estão inextricavelmente ligados a fatores socioeconômicos e educacionais. Além disso, a relação entre paciente e profissional de saúde é permeada por dinâmicas de poder que podem influenciar a conduta dos pacientes no mundo digital.
Estudo de Casos: Revelando as Dinâmicas Ocultas
Para compreender melhor o impacto dessa transformação, foram realizadas entrevistas com 30 usuários do sistema público de saúde de Campinas, São Paulo, Brasil. A amostra incluiu pacientes, familiares e cuidadores, e os dados foram coletados entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021. Os resultados revelaram três temas centrais:
1) A Dificuldade em se Tornar um Paciente Digitalmente Engajado: Iniciativas para se tornar um paciente digitalmente engajado, como buscar informações online e questionar os profissionais de saúde, muitas vezes são desestimuladas por esses mesmos profissionais. Isso decorre da falta de poder relacional e estrutural. A carência de conhecimento técnico dificulta a independência dos pacientes na busca de informações online.
2) Informações Online São Mais Acessíveis: Os pacientes relataram que as informações de saúde na internet são frequentemente mais acessíveis e compreensíveis do que as fornecidas por profissionais de saúde durante consultas. A internet permite que os pacientes esclareçam informações que podem ter sido ambíguas em consultas.
3) A Internet Oferece Apoio Emocional: A dimensão emocional do sofrimento devido a problemas de saúde encontra mais apoio no ambiente digital. Grupos de apoio e histórias compartilhadas nas redes sociais preenchem lacunas emocionais que podem não ser abordadas nas consultas médicas tradicionais.
Repensando a Relação Médico-Paciente
Tornar-se digitalmente engajado requer uma transformação sistêmica no setor de saúde. É fundamental que os pacientes se sintam encorajados a discutir as informações encontradas online durante as consultas. A comunicação eficaz é um componente crucial para o empoderamento do paciente. Os profissionais de saúde devem criar um ambiente que promova a interação, valorizando as contribuições dos pacientes.
As relações de poder entre médicos e pacientes não podem ser ignoradas, mas devem ser reconhecidas e gerenciadas de forma transparente. O diálogo, a inclusão e a empatia devem guiar as interações, tornando as consultas oportunidades para construir conhecimento e fortalecer a aliança terapêutica.
Métodos de comunicação personalizados, evitando jargões médicos e promovendo a compreensão, são essenciais. A comunicação ativa, individualizada e adaptada às necessidades dos pacientes é a chave para um relacionamento eficaz, capacitando os pacientes a desempenhar um papel ativo em suas decisões de saúde.
