Revolvendo as Raízes da Riqueza: Um Olhar Sobre o Passado e o Presente

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Permita-me levá-lo a uma jornada única, onde o passado e o presente se entrelaçam de maneira inquietante. Neste cenário fictício, você, estimado leitor, acorda transformado em uma nota de dinheiro. Sim, uma moeda, pois esta era a dura realidade de muitos nas Américas e na Europa moderna. Sua função primordial não era tarefas cotidianas, mas sim gerar lucro para aqueles que detinham o controle sobre você.

Em 2023, perguntas há muito esquecidas ressurgem: Quem lucrou com essas “moedas humanas”? Quem acumulou essa riqueza, financiou esse sistema e ainda colhe seus frutos? Estamos falando de nomes, famílias e instituições que prosperaram nos porões dos navios negreiros. Alguns países já começaram a sondar essa dolorosa herança, mas o Brasil, a última grande nação a abolir a escravidão oficialmente, continua a desviar o olhar.

O Banco e Sua História Sombria

Recentemente, o Banco do Brasil foi arrastado para o epicentro dessa tempestade. Pesquisadores de 11 universidades federais, após documentar a participação do banco na manutenção do sistema escravagista, decidiram tomar medidas. Esta ação ganhou destaque na mídia, e, com razão.

Fundado em outubro de 1808, pouco depois da chegada da família real portuguesa ao Brasil, o Banco do Brasil não pode negar suas raízes. Em seu próprio site, na seção “Sobre nós”, a instituição se orgulha de “cultivar, há mais de 200 anos, o valor dessa relação que temos com os brasileiros”. No entanto, essa relação tem raízes profundas no passado escravagista, onde o banco arrecadava taxas dos traficantes de escravos, lucrava com os depósitos dos proprietários de escravos em troca de títulos de nobreza e contava com notórios traficantes de escravos entre seus diretores e fundadores.

Historiadores como Thiago Campos Pessoa, da Universidade Federal Fluminense, revelam ligações impressionantes entre o Banco do Brasil e os magnatas da escravidão. Um exemplo notável é José Bernardino de Sá, um dos homens mais ricos do império, que possuía 5.216 ações do BB em 1855, superando muitos cafeicultores em riqueza. De acordo com Clemente Penna, pesquisador da Federal de Santa Catarina, toda a economia da época estava entrelaçada com títulos de crédito e letras de câmbio, e os verdadeiros detentores de riqueza líquida eram os traficantes de escravos, que, por conseguinte, financiaram o Estado brasileiro e os bancos.

A Vida como Mercadoria

Imaginemos, caro leitor, que você é uma mercadoria valiosa e seu dono não honrou suas dívidas. Nesse cenário, não há órgãos de proteção ao crédito. A justiça determina que os escravizados pertencentes ao devedor sejam enviados a um depósito no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro. Lá, ficariam “armazenados” até que o proprietário quitasse suas dívidas, seja com um indivíduo ou com o banco. Caso contrário, esses escravizados seriam leiloados, uma triste realidade.

O Banco do Brasil está no centro desse debate, e as medidas para reparação estão sendo estudadas. Esta é apenas uma faísca que brilha na escuridão de um dos maiores crimes contra a humanidade: a escravidão transatlântica. O Brasil, protagonista nesse triste capítulo, tem a responsabilidade de enfrentar essa herança.

Um Chamado à Consciência Coletiva

Nas últimas linhas deste texto, surgiu uma notícia alentadora: a formação de uma Bancada Negra na Câmara dos Deputados. Talvez seja essa união que finalmente traga a mudança tão necessária.

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