Vitória de Massa e derretimento de Milei: 2º turno argentino promete reviravoltas

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No rescaldo das eleições realizadas no último domingo, 22 de outubro, na Argentina, o cenário político do país se viu submerso em um turbilhão de surpresas e incertezas. As urnas ditaram seus vereditos, e o resultado foi uma montanha-russa de reviravoltas eleitorais, deixando os argentinos e observadores políticos ávidos por respostas e prognósticos.

A União pela Pátria (UP), liderada por Sergio Massa, protagonizou o que alguns chamam de “virada do século”, ao conquistar a vitória no primeiro turno, com 36,64% dos votos. A façanha de Massa de deixar para trás o ultradireitista Javier Milei, candidato do A Liberdade Avança (LA), que obteve 30%, foi uma reviravolta impressionante. Patricia Bullrich, do Juntos pela Mudança (JM), conseguiu 23,83% dos votos, não podendo rivalizar com os dois líderes.

No entanto, a real surpresa veio com o desfecho da corrida eleitoral na província estratégica de Buenos Aires, que abriga a maior densidade populacional do país. O atual governador, Axel Kicillof (UP), obteve uma vitória avassaladora, conquistando quase 45% dos votos, com uma vantagem de quase 20% sobre o segundo colocado, Néstor Grindetti (JM), que registrou 26%, e Carolina Piparo (LA), com 25%.

Assim, o palco está montado para um segundo turno eleitoral, que ocorrerá em 19 de novembro, com Massa enfrentando Milei. Um embate que será forjado pelas novas coordenadas políticas que emergiram das urnas, em uma eleição que está longe de ser previsível.

Desde as primeiras horas da eleição, o nervosismo e a ansiedade tomaram conta da militância da União pela Pátria. Entre os rituais populares que permearam o dia, as mensagens de “Eu escolho acreditar” inundaram os grupos de WhatsApp dos apoiadores do oficialismo, ecoando a célebre frase de Lionel Messi após a derrota na Copa do Mundo de 2022.

Em um contexto de quatro anos de governo peronista marcado por desafios e críticas crescentes, a UP enfrentou o desafio de reacender a esperança de seus seguidores e conter o avanço da extrema direita. A Argentina lida com hiperinflação e uma deterioração constante da renda dos trabalhadores, fatores que ampliam o cansaço na sociedade.

Para combater a ascensão da extrema direita, surgiram movimentos “Unidos pelo Pavor”, constituindo uma resposta não-organizada nas ruas, universidades e nas redes sociais, desafiando o candidato de extrema direita com criatividade e ironia.

Os resultados revelam um panorama interessante. A participação dos eleitores cresceu 7% entre as primárias de agosto e as eleições de domingo, impulsionada por um acréscimo de mais de 3 milhões de votos para o UP, enquanto Milei obteve apenas 700 mil novos votos. Patricia Bullrich, por outro lado, não conseguiu manter todos os votos do Juntos pela Mudança, perdendo 600 mil.

Isso destaca que Milei parece ter um teto eleitoral, uma vez que sua força depende substancialmente de sua figura pública, enquanto Massa colhe os benefícios de uma maior participação dos eleitores.

Além disso, a União pela Pátria conseguiu reverter a situação em oito províncias onde havia perdido para a extrema direita em agosto, graças à mobilização de governadores e suas máquinas partidárias.

Os resultados eleitorais representaram um balde de água fria para os ultraliberais. A ilusão de que Milei poderia vencer no primeiro turno cedeu espaço à necessidade de uma segunda rodada.

Aqui, o estilo de Milei se mostrou menos estridente, e ele convidou o Juntos pela Mudança a se unir à sua campanha, sinalizando um apelo à unidade. No entanto, a divisão interna no JM parece iminente, com diferentes alas reagindo de maneira distinta ao surgimento de Milei.

A maior incógnita é o destino dos 94 assentos do JM no parlamento, essenciais para qualquer esquema de governabilidade. O sistema político argentino, dividido entre kirchnerismo e antikirchnerismo nos últimos anos, parece estar passando por uma profunda transformação.

Com a corrida para 19 de novembro em andamento, a Argentina enfrenta desafios econômicos significativos, incluindo a estabilização de sua moeda. Massa busca construir uma coalizão democrática para afastar a ameaça da extrema direita encarnada por Milei, em um cenário político cada vez mais imprevisível.

À medida que a moeda permanece em suspenso, a única certeza é que tudo pode acontecer nas eleições mais incertas desde o retorno da democracia à Argentina.

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