Repórteres do Rio arriscam a vida para revelar ligações mortais: polícia, políticos e máfia

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Em uma cidade onde o crime organizado prospera nas sombras, jornalistas investigativos corajosos descem a um submundo perigoso para expor a verdade.

Sob a mira do assassino

O telefone de Rafael Soares tocou e seu sangue congelou. “Ronnie Lessa te pesquisou no Google”, disse um contato da Polícia Federal do outro lado da linha, enquanto o repórter brasileiro estava na redação em 2019. Qualquer jornalista policial do Rio que se preze sabia que ser investigado por tal homem era péssima notícia. Lessa era conhecido como um dos matadores de aluguel mais requisitados da cidade: um policial de combate endurecido pela guerra, transformado em assassino, cujos crimes lhe permitiram comprar uma lancha batizada com o nome de uma metralhadora belga, a Minimi.

Alguns chamavam Lessa de “Perneta” – perna manca – devido a um atentado à bomba no qual perdeu o membro esquerdo. Um ex-colega o chamou de “máquina de matar”. “Eu surtei… minhas mãos ficaram frias”, disse Soares sobre o aviso telefônico de sua fonte. “Não contei a ninguém. Nem para minha mãe, nem para minha esposa. Ninguém.”

Mergulhando na escuridão

Apesar disso, nos três anos seguintes, o repórter, agora com 33 anos, decidiu que a história de Lessa – e a do submundo que ele habitava – ainda precisava ser contada desesperadamente. Soares embarcou em uma missão para entender o assassino que pesquisou seu nome no Google e para desvendar como a força policial do Rio conseguiu produzir policiais corruptos altamente treinados que estavam sendo recrutados pelo crime organizado.

As descobertas perturbadoras do jornalista podem ser encontradas em “Milicianos”, um novo livro que faz parte de um crescente corpo de trabalho investigando o submundo infestado pela máfia do Rio.

Além das favelas: o tripé do crime

Décadas de batalhas entre facções de tráfico e a polícia nas favelas do Rio foram exploradas na literatura e em filmes como o suspense “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, ou “Tropa de Elite”, de José Padilha. Mas nunca antes houve tanto escrutínio sobre o triunvirato do crime do qual Lessa fazia parte: policiais transformados em matadores de aluguel como ele; grupos paramilitares implacáveis ​​conhecidos como “milícias”; e um grupo extremamente poderoso e rico de chefes da máfia do jogo, ligados a políticos, chamados de “bicheiros”.

Nos últimos anos, houve uma proliferação de livros, podcasts e documentários sobre a conexão entre esses grupos, que pintam um retrato assustador da cidade mais famosa do Brasil.

Soares rastreou o aumento de tais investigações até março de 2018, quando a política nascida na favela Marielle Franco foi morta a tiros ao voltar para casa – um crime que Lessa, de 53 anos, confessaria mais tarde e pelo qual aguarda julgamento.

O caso Marielle: rasga o sigilo do submundo

Até então, Lessa era famoso como um destemido guerreiro da linha de frente, celebrado por seus ataques ousados ​​contra os traficantes de cocaína que comandam muitas favelas do Rio desde os anos 1980.

Mas o assassinato de Franco revelou um lado ainda mais sinistro do agora policial desacreditado e lançou seu mundo secreto e vicioso em vista do público. O crime deu início a uma série de investigações policiais interligadas que expuseram algo profundamente podre no cerne da segurança e da sociedade do Rio.

“Se não fosse pelo caso Marielle, nenhum de nós teria podido escrever os livros que escrevemos”, disse Soares, que é correspondente especial do jornal O Globo. “[Isso] jogou luz sobre um submundo que até então permanecia intocado. Foi uma oportunidade para começar a cavar o submundo do Rio para ver o que havia por baixo.”

“O submundo estava escondido em um bueiro com tampa – o caso Marielle remove essa tampa, e lá dentro você encontra policiais, chefes do jogo, milícias – todas essas conexões do submundo que antes eram protegidas.”

Personagens de um pesadelo

Soares e seus colegas escritores encontraram uma companhia temível de personagens enquanto desciam para o Rio subterrâneo, examinando investigações policiais e arquivos de jornais, e conversando com fontes policiais e do submundo.

Entre uma multidão de policiais corruptos e bandidos com apelidos que incluem Batman, Robin, Mata Rindo, Erótico e Bob Bomba

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